sexta-feira, 21 de dezembro de 2007

Fuga



Se pararmos um pouco para pensar nos desejos, na vontade, na coragem dos homens e mulheres que se fazem ao mar, em barcos frágeis, sem condições, rompendo os laços da família e da terra para clandestinamente chegarem à Europa, percebemos que eles têm de ser pessoas especiais. Dispostas a arriscar, a trabalhar em condições duríssimas, a fazer das tripas coração pela sobrevivência.

Agora, por acaso, deram 23 assim à costa no Algarve. Mas, às centenas de milhares, chegam todos os anos às Canárias, a Espanha, inclusive a Cabo Verde. Fogem da fome, das condições de vida inumanas de África, de um destino com o qual não se conformam.

Face a isto a Europa não sabe - nem pode saber - como deve reagir. Se abre as fronteiras, em breve estará invadida; se as fecha, não cumpre o dever de humanidade com os que fogem de vidas de sofrimento.

O contraste entre a nossa vida - certa, estável e confortável (mesmo para aqueles que, entre nós, vivem na pobreza) - e a vida de quem se levanta sem saber se nesse dia terá algo para comer, rodeado de morte e de desespero, é tão grande, que não temos palavras para o descrever.

Mas, como a História nos ensina, iremos, mais cedo ou mais tarde, pagar por ele. Resta saber se o faremos voluntariamente ou forçados. Porque entre o cumprimento das necessidades básicas de quem foge para a Europa e a demografia de quem já está no Velho Continente, o resultado nunca nos é favorável.

2 comentários:

João Moreira disse...

Este texto retrata com exactidão o que se passa na linha de cada fronteira.

Ana Luar disse...

Uma realidade que assusta.